4 anos depois, Nine Perfect Strangers consegue um retorno quase perfeito (com um grande contratempo)

4 Anos Depois, Nine Perfect Strangers Retorna Quase Sem Falhas (com 1 Grande Revés)

Na segunda temporada de Nine Perfect Strangers, a Tranquillium House parece estar a milhões de milhas de distância. Quatro anos após aquele final infame, Masha Dmitrichenko decide se refugiar das cortes na deslumbrante paisagem dos Alpes Austríacos. Sua amiga Helena a convida para ficar em um charmoso château escandinavo, oferecendo uma oportunidade de recomeço longe das atenções indesejadas. Esse novo cenário também apresenta ao público um grupo de personagens com suas próprias jornadas sensoriais, impulsionadas pelos métodos psicoativos de cura de Masha. A temporada 2 não só propõe uma premissa instigante como também estabelece bases sólidas para o desenvolvimento da série.

John Henry-Butterworth, que recentemente teve The Agency renovada na Paramount+, afasta-se do romance de Liane Moriarty nesta nova temporada. Ao lado do criador David E. Kelley, de Big Little Lies e The Undoing, Masha continua sendo o ponto central da trama, ainda que as nuances da primeira temporada persistam. Pequenas referências a traumas passados, habilmente insinuadas nos minutos iniciais, demonstram que Masha segue processando eventos anteriores, mantendo, no entanto, sua máscara impecável de perfeição. Nicole Kidman, em sua interpretação de Masha, oferece uma performance etérea que reafirma sua presença inesgotável.

Nicole Kidman Permanece uma Presença Enigmática

Masha Traz a Essência da Humanidade

Masha Dmitrichenko exibe todas as características de uma líder carismática com uma presença enigmática, uma crença inabalável e um poder de persuasão impactante. Marcada pela dolorosa reconexão com a filha, que perdeu de forma trágica, ela se mostra uma mulher que esconde muitos segredos. Nos primeiros episódios, o que se destaca é o quão ilusória Masha continua, mesmo com a chegada de seus convidados. Na performance de Nicole Kidman, encontramos uma determinação de ferro que não se abala, mesmo diante de evidências concretas.

Há traços desse carisma messiânico reminiscentes de outras representações icônicas da cultura pop, onde um líder está sempre acima das convenções. Essa postura não só sustenta a segunda temporada como também exige que o espectador se envolva com os perigos que se instauram. Apesar de a série explorar o poder do indivíduo frente a temas como religião e a vida após a morte, o que a torna cara é justamente a performance – imperfeita, vulnerável e humana – que se contrapõe à aparente onipotência transmitida por Kidman. Felizmente, Masha é contrabalanceada por defensores que, de forma intransigente, apoiam seus métodos, testados ou não.

Masha, para todos: É uma limpeza da mente.

Lena Olin, que marcou sua trajetória ao interpretar Irina Derevko na famosa série Alias, dá vida a Helena, proprietária do retiro austríaco de Masha. Assim como Masha, Helena é envolta em mistério e o relacionamento entre elas apresenta uma dinâmica de poder delicada. As motivações por trás da oferta de Helena se tornam claras com o decorrer dos episódios, mas logo outras apresentações surgem para manter o ritmo da narrativa. Embora Helena tenha poucos instantes de destaque – pois Kidman domina a cena mesmo no silêncio – o vínculo entre as duas fica evidente, sendo um norte para os acontecimentos desta estreia.

Se há algo que Helena agrega à relação é a humanidade, justamente porque Masha raramente parece genuína. Poucas pessoas conseguem ver através da cortina de fumaça que envolve essa personagem hipnotizante, permitindo que o público se conecte com sua vulnerabilidade. Num show centrado na conexão humana, esse detalhe, embora sutil, é essencial.

Martin Tem um Impacto Real em Nine Perfect Strangers

Masha Precisa de Alguém para Mantê-la em Xeque

Outro elemento que contrabalança as ações de Masha é Martin, interpretado com uma benevolência quase acadêmica por Lucas Englander. Em um papel pequeno, mas crucial, ele se coloca contra os métodos de Masha com um olhar científico e uma postura de envolvimento direto, evitando que sua personagem se reduza a um mero símbolo. A segunda temporada evita facilitar demais as coisas para o espectador, fazendo com que Martin transite na tênue linha entre ser porta-voz de agendas dramáticas e ter uma personalidade genuinamente tridimensional. Como voz da razão e do controle, ele constantemente entra em conflito com Masha, especialmente em questões éticas, criando uma dinâmica instigante.

Martin representa um dos temas centrais explorados na nova temporada: o limite entre a descoberta humana e a disciplina científica. Em um período no qual a inteligência artificial expande os horizontes do conhecimento, os medicamentos psicoativos ainda mantêm conexões íntimas com a natureza. Enquanto Masha defende os benefícios da cura orgânica e desafia as salvaguardas científicas, as discussões entre os dois personagens oscilam entre concessões e alertas quanto à quebra de protocolos.

Martin declara a Masha: “Sem dosagem sem consentimento, sem trancar as pessoas.”

Esses momentos dramáticos conferem à série uma espinha dorsal robusta, abordando dilemas morais e éticos. Martin simboliza os riscos aceitáveis que a ciência está disposta a assumir, enquanto Masha encarna o território desconhecido e a verdadeira descoberta. Mesmo que a defesa do microdosagem de cogumelos mágicos se revele tanto benéfica quanto problemática, ela serve de palco para a construção de personagens em quem o público pode confiar e se identificar.

Victoria e Imogen São uma Combinação Formidável

Brian Carrega um Fardo Emocional Pesado

Dentro do ecletismo dos personagens de Nine Perfect Strangers, a dupla formada por mãe e filha, Victoria e Imogen, se destaca de forma singular. Marcadas por traumas e disfunções profundas, as interpretações de Christine Baranski e Annie Murphy trazem uma combinação poderosa, mesmo quando os momentos de alívio cômico surgem em meio à tensão. Baranski, conhecida por seu trabalho em The Good Wife, impressiona ao incorporar uma mulher madura em negação, aferrando-se à juventude por qualquer meio. Em uma performance que chega a ofuscar até mesmo a presença de Nicole Kidman, Victoria alimenta abertamente o rancor de Imogen.

Enquanto Victoria e Imogen encarnam arquétipos bem definidos, outras personagens se apresentam de forma mais sutil. Entre elas, Peter Sharpe, interpretado por Henry Golding, surge com uma postura modesta que esconde um segredo de riqueza. Sua atuação, medida e repleta de nuances, prenuncia conflitos futuros ainda por desdobrar.

Em paralelo, Brian chega ao château com um segredo mais profundo que a riqueza: atormentado por inseguranças e marcado por um episódio traumático, seu personagem, vivido por Murray Bartlett, se mostra complexo e cheio de camadas. Ao sugerir, sem dúvida, uma busca pela catarse – que é justamente a meta de Masha –, a narrativa oferece o drama necessário para que o público se envolva e reflita. Além disso, a presença de Agnes, interpretada por Dolly de Leon, introduz debates que ultrapassam os dilemas éticos, ampliando as discussões entre ciência e individualidade.

Masha Não é Apenas a Estrela do Cinema

Este Duplo Bloco Apenas Raspou a Superfície

Com uma narrativa que pode ser descrita como uma lenta queima, a segunda temporada de Nine Perfect Strangers concentra uma série de introduções, construções de cenário e uma atuação central vibrante de Nicole Kidman. Mesmo depois de quatro anos, a série não demonstra perder o compasso. O ambiente nevado confere um ar de mistério sem precisar de muitas palavras, enquanto o elenco de personagens é revelado de maneira gradual.

Embora alguns possam discordar do ritmo deliberadamente pausado, essa cadência proporciona o tempo necessário para que os espectadores se adaptem a esse inesperado novo capítulo da trama. As discussões ampliadas sobre substâncias psicoativas na medicina e a crescente importância de Martin à medida que a série avança ressaltam esse processo. Nicole Kidman, que se coloca na pele de Masha com uma naturalidade impressionante, reforça a ideia de que, apesar das agendas ocultas e das complexas intenções, outros personagens surgem para conter instintos potencialmente explosivos. Masha, agora carregando os fantasmas da primeira temporada, luta para manter sua fachada enquanto tenta recomeçar.

Mesmo com tantos elementos já revelados, há muito ainda por descobrir em Nine Perfect Strangers. A trama indica que o público mal começou a desvendar suas camadas: conexões entre personagens se formam e a essência do mistério se aprofunda conforme a história avança. Cada um deles carrega fardos pessoais a serem superados, e a jornada promete momentos intensos à medida que os conflitos se desenrolam.

Resumo

  • Prós:
    • Masha Dmitrichenko faz um retorno formidável com Nicole Kidman fazendo parecer sem esforço.
    • Lena Olin e Lucas Englander oferecem o contrapeso perfeito como Helena e Martin.
    • A estreia desta temporada dupla estabelece bases firmes para a narrativa.
  • Contras:
    • Alguns espectadores podem não se identificar com o ritmo lento dos episódios iniciais.

Nine Perfect Strangers estreou na plataforma Hulu em 21 de maio. Baseada no romance de Liane Moriarty, a série acompanha nove pessoas que descobrem segredos obscuros e agendas ocultas durante um retiro de bem-estar dirigido por uma mulher enigmática.

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