O Poderoso Chefão Pode Ser o Maior Filme de Todos os Tempos, Mas Por Favor Não Leia o Livro Primeiro
No entanto, o romance de 1969 de Mario Puzo, que inspirou o filme, não é tão aclamado entre os críticos. Isso não significa que Puzo fosse um mau autor; afinal, o autor nativo de Hell’s Kitchen co-escreveu o roteiro da obra cinematográfica – que eventualmente ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado em 1973 – mas a adaptação de Coppola eliminou grande parte do excesso do livro, concentrando-se na essência da história: a transformação de Michael no implacável chefe da família Corleone.
O Livro de O Poderoso Chefão Inclui Muito Material que o Filme Não Aborda (Nem Tudo é Bom)
O Filme se Beneficia do Corte de Alguns dos Pontos Mais Agressivos do Enredo do Romance
Um dos problemas do romance de Mario Puzo é a obsessão com Johnny Fontane, um personagem secundário no filme, interpretado por Al Martino. Ao adaptar o livro para o cinema, as peripécias alcoólicas de Hollywood de Fontane foram sabiamente deixadas de fora – uma das várias diferenças entre a obra escrita e a versão filmada. Assim como as aventuras de Tom Bombadil em “O Senhor dos Anéis”, a subtrama de Fontane em Los Angeles é apresentada na primeira metade do livro e acaba paralisando a narrativa, deixando os leitores ansiosos para retomar a trajetória de Don Corleone e Michael.
Outro aspecto que o filme evita explorar em detalhes é o caso de Sonny Corleone (James Caan) com Lucy Mancini (Jeannie Linero). De forma sutil, o livro se alonga de maneira elaborada ao discutir os altos e baixos desse relacionamento. Chega a haver uma subtrama na segunda metade do romance na qual Lucy passa por uma operação para corrigir uma “malformação pélvica” que a impedia de desfrutar do sexo com qualquer outro homem, exceto Sonny. Não é difícil entender por que Puzo e Coppola decidiram que essa história seria melhor aproveitada no formato impresso.
O Livro de Mario Puzo, O Poderoso Chefão, É Bom, Mas a Versão Cinematográfica é Muito Melhor
Puzo Transformou um Bom Livro em uma Obra-Prima
Uma das maiores forças de “O Poderoso Chefão” reside na forma como a essência dos personagens criados por Puzo é perfeitamente transposta para a tela. Trata-se de uma experiência surreal, quase sublime, intensificada por uma narrativa enxuta, livre de diversos pontos de enredo desnecessários, como as histórias paralelas de personagens coadjuvantes, por exemplo, Luca Brasi (Lenny Montanta) e o Capitão Mark McCluskey (Sterling Hayden).
Ao eliminar as subtramas adjacentes presentes no livro e focar no cerne da tragédia dos Corleone, Puzo e Coppola lançaram as bases para o sucesso estratosférico de “O Poderoso Chefão”.

Adriana Kvits é uma amante fervorosa da cultura japonesa, com um profundo amor por animes e mangás. Sua dedicação em explorar e compartilhar as complexidades dessas narrativas a torna uma voz apaixonada e uma guia confiável no emocionante mundo otaku.