Basic Human Anatomy é um exemplo primário de como o programa lida com paródias
Desde o primeiro episódio, parecia que Community estava disposto a quebrar o molde. Embora suas histórias de amizade e esperança fossem bastante familiares, Greendale e seus habitantes estavam longe do comum. Todas essas nuances se entrelaçaram para criar uma das melhores comédias dos anos 2010.
Mesmo com o sucesso geral do programa, suas bases começaram a abalar na quarta temporada. No entanto, Jim Rash conseguiu trazer a comédia de volta aos trilhos com “Basic Human Anatomy”. Seu senso de humor característico brilha intensamente, provando que, mesmo em meio a grandes mudanças, Community permanece na vanguarda do humor.
“Basic Human Anatomy” – Um Exemplo Marcante de Paródia
O episódio 11 da quarta temporada, “Basic Human Anatomy”, inicia marcado por uma data importante: o primeiro aniversário de Britta e Troy como casal. Enquanto o resto do grupo celebra, o casal demonstra um desinteresse quase que inexplicável, esquecendo totalmente a data especial. Entretanto, Troy se recorda que é o terceiro aniversário de ter assistido ao Freaky Friday original e, por isso, presenteia Britta com uma cópia. Como era de se esperar, o casal reencena a cena icônica do filme com viradas rápidas, imagens distorcidas e luzes piscantes. Inicialmente, tudo parece seguir normalmente enquanto o grupo prossegue com seu projeto de história.
Greendale Community College pareceria incompleto se esses personagens tão cativantes não retornassem para o tão aguardado filme. Muitos fãs podem se surpreender ao descobrir que este episódio foi escrito pelo próprio Jim Rash, mais conhecido por interpretar o diretor Craig Pelton. Por isso, Rash merece elogios por conduzir essa paródia de forma tão detalhada. Freaky Friday é um dos filmes mais populares de todos os tempos, tendo sido refeito inúmeras vezes para atender ao público moderno. No entanto, Rash levou essas adaptações um passo adiante, tornando-as perfeitamente adequadas ao universo dos estudantes de Greendale.
À primeira vista, “Basic Human Anatomy” pode parecer apenas mais um episódio sobre Troy e Abed, mas ele vai muito além disso. Inspirando-se na história de Freaky Friday, o episódio destaca apenas os elementos mais memoráveis da trama, sem se apegar demais à versão de 1976 nem ignorar completamente a influência da adaptação de 2003. No geral, esse episódio é uma verdadeira aula de paródia, pois apenas alude ao filme em vez de reproduzi-lo integralmente.
O Episódio Não Sobrecarrega o Público com Referências Cinematográficas
Como demonstrado nos brilhantes episódios de paintball, Community é capaz de parodiar praticamente tudo. Essa técnica, embora difícil de executar, é realizada de forma tão natural que o programa satiriza a essência de um filme, em vez de copiar seus momentos icônicos. Mesmo sendo o rei das paródias, o show reconhece que esse recurso não agrada a todos os espectadores.
Community é conhecido por suas histórias inventivas e bizarras, mas chegou a correr um grande risco em um episódio inicial, mais simples porém carregado de emoção. Ainda assim, “Basic Human Anatomy” evita esse problema com suas subtramas. Mesmo que os fãs não estejam familiarizados com Freaky Friday ou acreditem que o clichê já foi explorado inúmeras vezes, eles conseguem apreciar a “batalha” de Annie e Shirley contra Leonard. As personagens descobrem que a razão pela qual Leonard conseguiu manter um impressionante desempenho acadêmico por tanto tempo é que ele obteve um A em 1968 e desde então vem se acomodando. Embora esse seja um detalhe aparentemente pequeno, ele mantém o interesse do público, permitindo que os espectadores acompanhem a trama, mesmo que não se concentrem no enredo principal.
O Trabalho de Rash ofusca o Drama por Trás da Quarta Temporada de Community
Chevy Chase interpretou o polêmico personagem Pierce Hawthorne em Community, mas uma combinação de atritos e comportamentos inadequados acabou levando à sua saída precoce do programa.
É difícil discutir a quarta temporada de Community sem mencionar os bastidores conturbados ocorridos nesse período. Esta foi a primeira temporada sem o criador Dan Harmon como showrunner, substituído por Moses Port e David Guarascio, que já haviam trabalhado em outras comédias irreverentes, como Just Shoot Me. Infelizmente, Harmon não saiu por escolha própria, sendo demitido por mensagem de texto devido a diferenças criativas com a Sony. O criador acreditava que sua demissão ocorreu por conta de sua intenção de introduzir o pai de Jeff Winger, algo que os executivos consideraram demasiadamente sombrio para uma sitcom como Community. Em entrevista ao The Independent, o escritor explicou:
“Durante a terceira temporada, começamos a desenvolver uma história sobre a introdução do pai de Jeff Winger e lembro-me de ter recebido um telefonema me alertando para não tornar tudo muito sombrio. Eu disse: ‘Bem, simplesmente não farei isso e, se algum dia decidirem me demitir, podem seguir com uma versão da história do pai sem mim.’ Não vou criar uma história sobre Jeff Winger encontrando seu pai distante, possivelmente alcoólatra e charlatão, com o mandato de animar aqueles que não assistem ao show. Acho que, mais do que qualquer outra coisa, essa foi a conversa que me fez ser demitido – mas foi apenas a gota que derramou.”
Embora seja fácil apontar falhas na quarta temporada, “Basic Human Anatomy” conseguiu fazer com que Community voltasse à sua essência. A paródia de Rash foi executada de forma brilhante, mantendo viva a técnica característica de Dan Harmon conhecida como o Círculo da História. Nesse método, Harmon adapta a Jornada do Herói em oito pequenos segmentos, onde o personagem enfrenta um obstáculo, se adapta e evolui. Assim, ao aprenderem a aceitar suas novas personalidades, Troy e Abed descobrem que precisam reverter a situação pelo bem de Britta, emergindo como homens mais fortes. Em meio a tantas mudanças e, infelizmente, muitas críticas, Rash assumiu o controle e entregou um episódio que destaca o que de melhor o programa tem a oferecer.

Adriana Kvits é uma amante fervorosa da cultura japonesa, com um profundo amor por animes e mangás. Sua dedicação em explorar e compartilhar as complexidades dessas narrativas a torna uma voz apaixonada e uma guia confiável no emocionante mundo otaku.